4º dom Advento - Ano B
II Sm 7.1-5,8-16; Sl 132.8-18; Rm 16.25-27; Lc 1.26-38
O evangelho de hoje nos leva a uma reflexão sobre a figura central da preparação para o Natal. Quem é a personagem principal, ao ser preparado o evento do parto do nascimento de uma criança? Que eu saiba, é a mãe da criança! Depois, sim, é a criança! Mas antes do nascimento, a personagem principal é a mulher, mãe, que tem que se entregar totalmente ao evento. Pois, na história da Salvação, no sentido desta entrega total ao Senhor, a mulher que fica perturbada, que tem de crer no que não conhece, que é humilde, simples mas é também cheia de graça e bendita entre as mulheres, é Maria. Desta maneira é que olhamos para ela que nos serve de modelo.
Neste aspecto corremos o risco de imaginar que pra ela, por ter a Graça divina e ser bendita, tudo poderia ser mais fácil. Mas os evangelhos nos mostram Maria vivendo na dúvida, nem sempre entendendo os caminhos misteriosos de Deus. São Lucas nos conserva o testemunho de Isabel sobre Maria: «feliz aquela que creu» e aquele testemunho do próprio Jesus por ocasião do seu desaparecimento na peregrinação a Jerusalém «Não devo tomar conta das coisas que são de meu Pai?» (Lc 2.49). O Evangelho mostra que «José e Maria não compreenderam Jesus». E isto nos revela a grandeza da atitude de Maria: sua vida de fé, de humildade e confiança em Deus. Esta atitude aproxima Maria de nos sa própria vida que é, neste aspecto, parecida no sofrimento, na falta de clareza do futuro. Mas duas coisas importante ela nos mostra: sua vida de fé que não entende tudo, mas confia, e sua fé que cresce diante da reflexão e da meditação. E só com isso superou a perturbação inicial e aceitou a vontade de Deus quando disse: que tua palavra se cumpra em mim!
A anunciação nos mostra a movimentação da fé. Deus comunica coisas inacreditáveis - «embora fosse virgem, ela conceberá; pela força do Espírito Santo; o filho que nascer, será tanto seu filho, mas também Filho do Altíssimo; será o Messias cujo reino não terá fim».
Como crer em tudo isto? Não nos parece uma espécie de alucinação? Onde estão os sinais que nos tiram as dúvidas ou nos dão certeza? Maria se perturba e tem medo, mas não duvida. Apenas pergunta como acontecerá. Porque sabe que para Deus nada é impossível. Não está exatamente neste fato sua fé, como explica tão bem a carta aos Hebreus 11.1: «a fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos, e a certeza de que existem as coisas que não vemos».
Maria acreditou sem se dar conta de toda a profundidade da quilo que ouvia; ou seja, o viver torna real aquilo que é confuso. É próprio da fé viver no «lusco-fusco», as coisas se iluminam, se revelam na medida em que acolhemos e nos entregamos à vontade de Deus. Este é o caminho de todas as pessoas de fé. A fé convive com a perplexidade mas não pode conservar a sua força com a dúvida. Devemos superar a dúvida. Zacarias duvidou da palavra do anjo: «Como terei certeza de que Isabel, já velha, vai conceber?» Perguntou e por esta dúvida foi punido. O anjo lhe disse: «Porque não creste, ficarás mu do». Maria acreditou e recebeu o louvor de Isabel quando foi visitá-la: «você é feliz porque acreditas...».
Então o que significa crer? Olhando para este exemplo podemos discernir três pontos fundamentais. Primeiro: crer é confiar. Quem sabe, vê e conhece e por isso não precisa crer. Crer significa confiar apesar da dúvida; acolher apesar de não ver claro porque é Deus quem está falando. É a confiança do filho ao pular da cadeira sabendo que o Pai vai lhe pegar antes de cair no chão, por isso pula. Segundo: crer significa um abrir-se aos planos e a experiência de um outro. Não basta apenas confiar na intenção do outro, mas no fazer o que pensa e o que diz do mais experiente. Tem de assumir a intenção do outro, embora não se veja a lógica e a transparência desta intenção. Maria, acolhe o conteúdo das palavras do anjo: de ser virgem e mãe sem ter homem algum para ser Pai. A fé em Deus envolve um abrir-se a um ser Maior que tem os segredos de todos os caminhos e sabe melhor o sentido impenetrável que Ele confere ao caminhar humano. Crer é poder dizer: aconteça comigo o que Deus quer! Não conforme a minha compreensão e os meus desejos, mas conforme a palavra e os desígnios do Altíssimo. E o Terceiro ponto fundamental é que crer, também significa obedecer. Obedecer é oferecer-se para realizar os planos sem que eles tenham sido feitos por mim; obedecer é entender, respeitar e cumprir. Foi o que fez Maria. Ela simplesmente disse: Eis me aqui!
Crer e obedecer é aceitar entrar no plano de Deus, estarmos prontos para realizá-lo, embora não vejamos claramente a continuidade do caminho. Isto é servir ao Senhor. Servir a Deus não significa ser escravo; Devemos nos lembrar que Deus não quer escravos, mas livres. Por isso, não invadiu o ventre de Maria; pediu licença e, depois do consentimento, ofereceu sua proposta de salvação. E ela respondeu na liberdade, poderia ter negado.
Maria, por sua palavra e por suas atitudes, é modelo de discipulado. O Antigo Testamento começa com a fé de Abraão (Gn 15.6) e o Novo Testamento começa com a fé de Maria. Se acreditarmos como ela, poderemos reconstruir a nossa Igreja e reencontrarmos novamente o Jesus entre as pessoas que participam conosco dessa comunidade e re-iluminar nossas vidas e a vida das pessoas com quem convivemos através da luz que vem de Deus apontada por Maria no maior e mais alto testemunho cristão. Sem saber como, aceitou!
E nós, que sabemos, pelo menos teoricamente, demonstramos medo, preguiça, dúvida, incerteza...
Precisamos, como Maria, aceitar as garantias que Deus nos aponta sem nos mostrar um filme de como será o futuro e fazer a nossa parte, servirmos a esse Deus que nos convida a sermos apenas amorosos, humanos, humildes e dispostos a repartir, ajudar nossos semelhantes quando estes nos pedem ajuda ou quando percebemos que precisam de ajuda mesmo sem que nos digam alguma coisa. Amém.
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